Nada de mansão ou cobertura: entrevistados querem casa com três quartos, sendo uma suíte, duas vagas de garagem, piscina e churrasqueira
O imóvel dos sonhos dos brasileiros é uma casa com três quartos (sendo uma suíte), dois banheiros, duas vagas de garagem e que tenha, além de um escritório, salão de jogos, salão de festas, piscina, churrasqueira, horta e espaço pet. É o que mostra uma pesquisa inédita encomendada pelo QuintoAndar, aplicativo de aluguel e venda de imóveis, feita pela Offerwise com 1.500 pessoas em todo o Brasil.
O estudo aponta ainda que o brasileiro mora, em média, numa casa com dois quartos, com apenas um banheiro e uma vaga de garagem. A maioria não conta com um espaço para home office nem área de lazer. Engana-se, porém, quem acha que o brasileiro almeja morar numa mansão ou numa casa gigantesca com cinema privativo – 59% dizem, aliás, não fazer questão nenhuma desse item. A maioria dos entrevistados também não deseja brinquedoteca, quadra, elevador, sauna, pomar e portaria 24 horas. “Os brasileiros não querem luxo, querem apenas morar melhor, ter mais espaço e mais comodidade”, afirma Thiago Reis, gerente de Dados do QuintoAndar.
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Em relação a valores, 73% dos entrevistados dizem que o imóvel ideal não deveria custar mais de R$ 500 mil. Apenas 7% citam uma casa ou um apartamento de mais de R$ 1 milhão como seu sonho de consumo. Até por isso, 53% acreditam que estarão vivendo em seu imóvel ideal em “5 anos ou menos”. Só 4% acreditam que nunca conseguirão morar em sua casa dos sonhos.
De acordo com os entrevistados, o imóvel mais desejado é uma casa: 67% citam essa opção, contra 21% que apontam um apartamento e 11% que querem um sítio ou uma chácara. E esse imóvel deve estar na capital para 44% dos ouvidos; 34% preferem o interior ou o litoral. O arquiteto e professor titular do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFMG, Carlos Alberto Maciel, lembra que é muito difícil encontrar casas à disposição para alugar ou comprar nas áreas centrais das grandes cidades, principalmente dentro do preço indicado na pesquisa.
Para ele, os prédios antigos do centro de locais como Belo Horizonte precisavam ser requalificados para que a cidade tenha mais opções
de moradia nestas regiões. “Temos um conjunto de edifícios construídos nos centros urbanos que vem passando por um processo de envelhecimento. Eu diria que, em contraponto ao desejo da casa isolada, o que a gente talvez possa ter de mais virtuoso numa produção imobiliária e, por outro lado, possa contribuir para estimular o desejo das pessoas é uma renovação dos centros urbanos, com uma requalificação de edifícios antigos que tem uma grande qualidade material arquitetônica, com endereços notáveis, e com isso promover uma renovação urbanística. Isto recupera a qualidade do morar nas regiões centrais, que tem infraestrutura, comércio, lazer, escolas, tudo que a cidade pode oferecer”, analisa.
Segundo o levantamento do QuintoAndar, os dez principais critérios escolhidos ao decidir pelo imóvel dos sonhos são:
1. Morar em uma região mais segura: 30%
2. Sair do aluguel: 25%
3. Ter espaço externo (como quintal ou varanda): 24%
4. Morar numa região mais tranquila/silenciosa: 23%
5. Morar num imóvel com mais espaço ou cômodos: 22%
6. Um imóvel com melhor infraestrutura: 21%
7. Espaço para lazer (festas, área de churrasco, playground): 19%
8. Infraestrutura local (transporte público, escolas, comércio): 19%
9. Ficar mais perto da família: 15%
10. Valor do imóvel/condomínio: 14%
Muitas construtoras já perceberam a procura maior dos brasileiros por imóveis que tenham mais quartos, varanda e área de lazer, principalmente a partir da pandemia, e a maioria dos novos prédios oferece estas opções. Mas ainda é cedo para dizer se é uma tendência, segundo o gerente de Dados do QuintoAndar.
“Antes, a gente via uma busca maior por espaços menores. Mas com a pandemia, as pessoas queriam migrar para imóveis maiores e mais distantes. O que acontece é que a necessidade se impõe e esta tendência teve uma reversão. Depois de um período de home office, as pessoas precisam novamente ficar perto dos seus empregos e escolas. E a gente sabe que não tem essa disponibilidade de casas nos centros das cidades”, explica Thiago Reis.
Na avaliação da professora aposentada de Arquitetura na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisadora do Observatório das Metrópoles, Jupira Mendonça, o próprio mercado imobiliário estimula a busca por apartamentos, apesar do sonho do brasileiro ser a casa.
“Há uma tendência que de fato vem crescendo, que é a procura por apartamento. E isto é resultante de uma oferta do próprio setor, que tem oferecido cada vez mais imóveis do tipo, que são mais rentáveis. Com o mesmo terreno, a construtora oferece uma quantidade muito maior de moradias, né? Hoje praticamente não há oferta de imóveis do tipo casa para as faixas de renda com menor poder aquisitivo
dentro das grandes cidades”, avalia.
Ainda segundo a pesquisadora, o tipo de imóvel procurado depende muito do tamanho e características da família. “Em geral, aquelas famílias com filhos na primeira fase da vida, ou seja, crianças, são as que almejam espaços maiores, um terceiro quarto, uma área de lazer, né? Mas há uma parte desse grupo, que às vezes prefere uma localização mais central, embora num imóvel menor. Pouco tempo atrás, a gente viu numa pesquisa realizada em São Paulo, também com reflexos em Belo Horizonte, uma outra tendência que é dos imóveis minúsculos, de 35 m², que são os flats, as kitnets, também com uma grande demanda”, analisa.
De acordo com dados do último censo demográfico, os apartamentos representavam 17% das moradias em 2000 na região metropolitana de Belo Horizonte e passaram para 20% em 2010. “Nós ainda não temos resultados do censo 2022, mas com certeza esse percentual vai aumentar ainda mais, porque a gente teve aí pelo menos até 2016, 2017, muitos empreendimentos do Minha Casa, Minha Vida”,
conclui a pesquisadora.
Em 2010, 33% das moradias da capital mineira eram apartamentos. A pesquisa, encomendada pelo QuintoAndar, foi feita pela Offerwise, por meio de um questionário online. Foram entrevistados 1.500 homens e mulheres com 18 anos ou mais, de todas as classes sociais, nas cinco regiões do Brasil. O levantamento foi feito de 5 a 12 de dezembro e tem margem de erro de 2,5 pontos percentuais, com um intervalo de confiança de 95%. É importante salientar que algumas questões, por permitirem a escolha de mais de uma opção, extrapolam a somatória de 100% nas respostas.